O uso da tecnologia como meio de integração da saúde pública
Descubra como a tecnologia pode impulsionar a integração na saúde pública e transformar o SUS com mais eficiência, segurança e acesso.

A saúde pública brasileira enfrenta desafios históricos relacionados à ineficiência de processos e à baixa digitalização dos serviços. Apesar de avanços pontuais, o sistema ainda é majoritariamente baseado em processos manuais e desintegrados, o que compromete diretamente a qualidade da assistência oferecida à população.
A falta de tecnologia afeta desde o registro de pacientes até o acompanhamento clínico, criando um ambiente propício a erros, atrasos em diagnósticos e falhas na gestão.
Neste artigo, vamos explorar como a integração na saúde pública pode ser catalisada pelo uso estratégico da tecnologia, enfrentando obstáculos estruturais e culturais para transformar esse cenário.
A importância da tecnologia na integração dos serviços de saúde pública
A tecnologia tem o poder de revolucionar a gestão e o cuidado em saúde pública, principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil.
A digitalização dos processos e a interoperabilidade entre sistemas são essenciais para garantir que as informações dos pacientes estejam disponíveis em diferentes pontos de atendimento, promovendo continuidade no cuidado e maior eficiência na gestão de recursos.
A integração na saúde pública não é apenas uma melhoria operacional, mas uma exigência ética e estratégica. Quando dados clínicos estão interligados, profissionais de saúde conseguem agir de forma mais rápida e precisa, evitando a repetição de exames e reduzindo o risco de erros médicos.
A digitalização favorece políticas públicas baseadas em evidências, com informações em tempo real para decisões mais assertivas. Um sistema integrado permite também maior controle em emergências sanitárias, como demonstrado durante a pandemia da COVID-19.
Cenário atual da saúde pública no Brasil: números que revelam os desafios
O Brasil conta com o maior sistema público de saúde do mundo, o SUS, que atende aproximadamente 190 milhões de brasileiros. Isso equivale a cerca de 80% da população que depende exclusivamente do sistema público para receber cuidados de saúde. No entanto, o panorama digital dessa estrutura ainda está longe do ideal.
De acordo com a TIC Saúde 2022, 97% dos estabelecimentos públicos possuem computadores, mas apenas 85% utilizam sistemas eletrônicos para registro de pacientes, e só 42% armazenam informações clínicas e cadastrais no prontuário eletrônico.
Esses dados revelam um abismo entre a presença de tecnologia e sua aplicação real na rotina hospitalar. A situação se agrava em determinadas regiões: no Norte do país, apenas 6% dos hospitais utilizam a internet para armazenar dados, o que demonstra uma desigualdade crítica na distribuição da infraestrutura digital.
Principais obstáculos para a transformação digital na saúde pública
Transformar a saúde pública por meio da tecnologia exige enfrentar uma série de entraves, que vão desde a escassez de recursos financeiros até barreiras culturais e institucionais.
A ausência de investimentos contínuos compromete a aquisição de equipamentos, softwares e ferramentas modernas. Mesmo quando há recursos, o ambiente regulatório e a burocracia tornam a implementação morosa e ineficaz.
Outro desafio central é a resistência à mudança por parte dos profissionais da saúde. Muitos servidores públicos têm receio de adotar novas ferramentas por falta de familiaridade, medo de perder autonomia ou insegurança frente a novas rotinas.
Sem uma estratégia de capacitação consistente, essa resistência se torna um dos principais gargalos da inovação. Há ainda uma desconfiança quanto à privacidade e segurança dos dados, o que requer políticas robustas de proteção e adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Infraestrutura tecnológica nos hospitais públicos: um gargalo a ser superado
Mesmo com a expansão de iniciativas como a RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde), a precariedade da infraestrutura básica ainda é um dos maiores entraves à digitalização. Em muitos hospitais, os computadores são antigos e lentos, dificultando o uso de sistemas mais robustos.
A conectividade à internet é instável, especialmente em regiões periféricas e áreas remotas, o que inviabiliza a operação de soluções online em tempo real.
A falta de equipamentos e de profissionais especializados também impede o avanço da digitalização. Hospitais operam com equipes enxutas, sem técnicos de TI capacitados para lidar com falhas, atualizações de sistema ou mesmo a instalação de novos programas.
A ausência de suporte técnico adequado compromete a continuidade dos serviços e desestimula os gestores a investir em novas soluções. Sem resolver o problema da infraestrutura, qualquer tentativa de transformação digital será superficial e ineficaz.
Como a integração tecnológica pode melhorar o cuidado e a gestão em saúde
A adoção de sistemas interoperáveis permite um salto de qualidade tanto na gestão quanto no atendimento ao paciente. Com dados conectados, é possível acompanhar a trajetória do paciente desde a atenção básica até tratamentos de alta complexidade, promovendo um cuidado mais coordenado e centrado na pessoa.
Do ponto de vista administrativo, a integração na saúde facilita o controle de estoques, o agendamento de exames, o monitoramento de filas cirúrgicas e o gerenciamento de campanhas de vacinação. Isso se traduz em maior eficiência, redução de desperdícios e uso mais inteligente dos recursos públicos.
Para os profissionais de saúde, a tecnologia oferece suporte à decisão clínica com base em histórico médico, protocolos integrados e alertas automatizados. Já para os pacientes, representa agilidade no atendimento, menor tempo de espera e aumento da segurança assistencial.
Exemplos e iniciativas que estão fazendo a diferença no SUS
Um dos exemplos mais emblemáticos de integração tecnológica no setor público é a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), criada pelo Ministério da Saúde como parte do programa Conecte SUS.
A RNDS visa estabelecer uma plataforma nacional de interoperabilidade, permitindo que diferentes sistemas de saúde — públicos e privados — compartilhem informações de maneira segura e eficiente. Até 2028, a expectativa é que a RNDS se consolide como o principal eixo de transformação digital no país.
Outra iniciativa promissora é a atuação de empresas brasileiras, como a MV, que desenvolvem softwares de gestão voltados especificamente para hospitais públicos. A empresa tem mapeado desafios e proposto soluções para problemas estruturais como infraestrutura precária, baixa adesão de usuários e ausência de governança de dados.
Essas ações demonstram que, mesmo diante de limitações, é possível inovar e melhorar significativamente a qualidade da saúde pública por meio da tecnologia.
Tecnologia como ponte para o futuro da saúde pública no Brasil
O futuro da saúde pública no Brasil depende diretamente da capacidade de integrar tecnologia e informação de forma eficiente, equitativa e segura. A digitalização não é uma meta isolada, mas sim um instrumento para alcançar um sistema de saúde mais justo, ágil e centrado no cidadão.
O uso de inteligência artificial, big data e telemedicina pode revolucionar diagnósticos, personalizar tratamentos e democratizar o acesso ao cuidado em todas as regiões do país.
No entanto, para que isso aconteça, é necessário superar os gargalos estruturais, investir de maneira contínua em infraestrutura e capacitação, e criar políticas públicas que incentivem a inovação de forma inclusiva.
A interoperabilidade, inspirada em modelos como o open finance, precisa ser tratada como prioridade estratégica, com o paciente no centro das decisões. O Brasil tem potencial para ser protagonista nessa transformação, desde que o compromisso com a modernização da saúde pública seja real, constante e sustentado.
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