O que são e como usar modelos de notificação de incidentes para ampliar a segurança do paciente

Sistemas integrados melhoram a assistência, além de diminuir consideravelmente desperdícios de insumos e internações desnecessárias, reduzindo assim os custos para o hospital

O que são e como usar modelos de notificação de incidentes para ampliar a segurança do paciente

Incidentes são eventos resultantes em dano desnecessário para o paciente, e que, em geral, poderiam ser evitados. Eles são divididos em eventos adversos, quando ocorre algo prejudicial, e eventos graves, que ocasionam óbito. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados anualmente 43 milhões de incidentes relacionados diretamente à segurança do paciente em todo o mundo. 

Uma das maneiras de reduzir esse número e tornar a assistência mais eficaz e segura é adotar um modelo de notificação de incidentes. Trata-se de um registro dos erros e procedimentos equivocados que causaram algum tipo de dano ao paciente. O modelo começou a ser utilizado depois que uma pesquisa norte-americana, realizada em 1999, mostrou que a maioria dos eventos adversos só foram identificados depois que haviam ocorrido, e não no exato momento.

“Assim teve início um movimento internacional que culminou, no Brasil, com a publicação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) da Resolução da Diretoria Colegiada número 36, que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Ele é composto de algumas metas, entre elas a de que cada instituição de Saúde deve ter um núcleo de segurança do paciente. Mas o programa ainda não é cumprido à risca, muito por falta de fiscalização”, destaca Graciane Netto Cardoso Arruda, enfermeira, mestre em gestão da clínica e especialista em cardiologia e cuidados intensivos. 

Além dos hospitais, Unidades Básicas de Saúde (UBSs) públicas também devem ter os seus núcleos. Eles são responsáveis por diversas políticas relacionadas à segurança do paciente, entre elas: 

  • Propor ações de prevenção a incidentes e incentivo à identificação e estudo de cada erro cometido; 
  • Trabalhar com a cultura de segurança do paciente, em conjunto com todo o setor de Saúde. Quando um erro acontece em um hospital, é necessário comunicá-lo para não acontecer em outros; 
  • Notificar interna e externamente a ocorrência de erros e eventos adversos que interferem na segurança do paciente. 

Segundo a especialista, o núcleo tem o papel de trabalhar com cultura, estratégias e educação, para desenvolver nos profissionais de saúde o hábito de falar o que acontece sem medo de punição.

"Se as pessoas não falam, não tem como o núcleo ser efetivo. Primeiro ponto é trabalhar a parte educacional", explica Graciane. 

A partir disso, esse núcleo fica responsável por preencher o Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária da Anvisa, o Notivisa, com informações sobre eventos adversos e graves. Toda notificação relacionada à Anvisa precisa gerar uma solução, uma ação para prevenir outras ocorrências do tipo. 

Quando o núcleo recebe essas notificações, precisa entender primeiro o que aconteceu. Quanto mais dados tiver, melhor é a investigação. Nesse contexto, a tecnologia na saúde é grande aliada. A especialista comenta que o núcleo com um eficiente modelo de notificações, além de ser fundamental para garantir a segurança do paciente, garante à gestão hospitalar que não haverá desperdícios de insumos e evita reinternações, reduzindo custos. Graciane destaca que um sistema de gestão hospitalar integrado é fundamental nesse aspecto, mas que o Brasil ainda vive realidades diferentes.

"O núcleo de segurança tem autonomia para propor estratégias de acordo com os profissionais que nele atuam e a cultura do hospital. Algumas instituições contam com tecnologia e dados estruturados, outras não têm nem computador, então é necessário se adaptar à realidade."

Com um sistema de gestão integrado, as notificações são registradas também no software, que está sob controle do núcleo e transfere os dados para o Notivisa automaticamente. Sistemas também permitem a visualização de eventos em tempo real, com acesso ágil e simultâneo aos dados, tornando as decisões e eventuais correções de rota mais assertivas e ágeis. Assim a gestão hospitalar atua no desenvolvimento de ações imediatas e também preventivas, segundo a sua realidade. 

Graciane ainda alerta que toda a equipe precisa estar ciente da responsabilidade em relação à segurança do paciente, mesmo que não esteja vinculada diretamente ao núcleo. Dessa forma, todos serão responsáveis pelo preenchimento correto dos dados e, consequentemente, terão colaboração direta nas propostas de soluções que minimizem erros e eventos adversos no hospital, melhorando a qualidade da assistência como um todo.

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