6 prioridades da gestão da Saúde Pública municipal em 2021

Capacidade técnica, atenção primária, capilaridade de redes de assistência e programas de vacinação devem estar na lista de esforços dos gestores públicos que assumem em 2021

6 prioridades da gestão da Saúde Pública municipal em 2021

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A crise mundial causada pelo coronavírus se tornou pauta onipresente em 2020, trazendo ao setor de Saúde um nível ainda mais elevado de complexidade. Na 
gestão da Saúde Pública municipal, soma-se a esse contexto a eleição de novas lideranças, que vão assumir uma rede com inúmeros e novos desafios a partir de janeiro de 2020. O momento pode ser visto, também, como uma oportunidade de transformar os serviços, garantindo a assistência tão necessária a mais de 70% da população brasileira que depende do Sistema Único de Saúde (SUS).  

Chrystina Barros, pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e CEO da ApoioEcolimp, cita 6 prioridades que devem fazer parte da agenda dos próximos líderes que assumem a gestão de Saúde Pública municipal. São elas: 

 

1 - Cercar-se de especialistas técnicos   

Mesmo que não venham de uma atuação anterior no setor de Saúde, os gestores públicos que vão assumir os governos municipais em 2021 devem escolher bons especialistas técnicos para compor suas equipes.

"É um primeiro passo fundamental, e o mais indicado é que eles não tenham influências políticas - especialmente as negacionistas”, argumenta Chrystina.

  

2 - Fortalecer a atenção primária  

Chrystina enfatiza o papel do programa Saúde da Família na captação precoce de qualquer alteração nas condições da população.

“No caso de sintomas leves da Covid-19, por exemplo, esse acompanhamento permite o correto encaminhamento em tempo hábil para outro nível de atenção que a pessoa necessite", ressalta a especialista.  

Ao mesmo tempo, programas de atenção primária promovem o controle de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, que devem ser constantemente controladas a fim de evitar complicações para o cidadão e, ainda, custos para o sistema com potenciais agravos. Também devem lidar com aspectos que estão além do setor de Saúde, mas que se relacionam diretamente com ele, como o saneamento básico.

"Como pedir a alguém que mantenha condições adequadas de isolamento se temos famílias de 10 pessoas morando em um local com 20 metros quadrados, que pisam em esgoto e não tem água tratada para lavar as mãos?", questiona Chrystina.

 

3 - Monitorar metas em prol da saúde  

Criar uma sala de situação é um caminho para o acompanhamento de padrões de eficiência, para disponibilizar informações inteligentes para subsidiar a tomada de decisão, a prática profissional e a geração de conhecimento.

“Por mais que possam existir parcerias público-privadas ou outras formas de gestão da Saúde Pública, a responsabilidade dos indicadores é, e sempre será, do líder público”, garante. Também nesse sentido, incentivar ensino e pesquisa devem ser prioridades.

"Precisamos ter produção própria de insumos estratégicos, e isso deve ser fomentado junto às universidades e aos órgãos sérios, que trabalham com critérios técnicos. Não podemos ficar dependentes e reféns de materiais tão essenciais, mas que são produzidos do outro lado do mundo e se inflacionam no mercado", pontua.

 

4 - Usar a tecnologia a favor da assistência  

A pandemia evidenciou a importância da tecnologia para a gestão de Saúde Pública municipal, cenário que deve se reforçar no próximo ano.

"Sistemas de gestão de referência e contrarreferência devem ser inteligentes e íntegros, atender aspectos da LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais] com toda segurança e ajudar no suporte da telemedicinaque veio para ficar", resume.  

Para Chrystina, a tecnologia também é crucial para promover a gestão do cuidado de ponta a ponta, possibilitando, inclusive, a integração entre secretarias municipais e estaduais para fazer a distribuição de polos de média e alta complexidades de maneira inteligente.

 

5 - Identificar e lidar com a demanda reprimida  

gestão da Saúde Pública, acostumada a planejar o futuro com base no presente, não pode perder de vista que a pandemia trouxe situações cujas consequências ainda estão por vir no curto e médio prazos.

"Claro que, neste momento, falamos em gestão de crises, porque aquilo que grita e é agudo precisa ser resolvido mais rápido. Mas, em paralelo, não se pode deixar de lado o trabalho que, de fato, resultará em uma melhor entrega da saúde lá na frente", ressalta a especialista.  

Nesse sentido, é indicado iniciar um trabalho massivo para identificar, por exemplo, mulheres que deixaram de fazer exames rotineiros de prevenção, como mamografias e papanicolau, cidadãos que interromperam o acompanhamento de doenças crônicas ou mesmo que tiveram exames e cirurgias eletivas adiadas. A identificação dessa demanda reprimida é fundamental para planejar o dimensionamento da rede para atendê-las com os casos agudos da pandemia.

 

6 - Criar programas de vacinação  

A vacinação é uma das ações que demandará atenção plena da gestão de Saúde Pública municipal muito em breve.

"No momento em que estamos, às vésperas de iniciar um grande programa de imunização, ter atenção à capilaridade das unidades de Saúde é pré-requisito", diz.  

Embora historicamente o Brasil tenha um dos melhores programas de vacinação do mundo, a especialista acredita que uma gestão de múltiplas frentes, com recursos técnicos dedicados, deve ser colocada à prova pelos próximos gestores. O planejamento tem de começar no primeiro dia de janeiro para garantir, assim, o enfrentamento a essa pandemia sem precedentes na história recente da humanidade. 

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