4 formas de a gestão da Saúde Pública usar a tecnologia para planejar campanhas de vacinação

Ao investir em um banco de dados único para toda a população brasileira será possível até mensurar com exatidão a quantidade de vacinas necessárias e evitar fura-filas

4 formas de a gestão da Saúde Pública usar a tecnologia para planejar campanhas de vacinação

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A imunização contra o coronavírus será a maior campanha de vacinação feita no Brasil, já que duas doses devem ser aplicadas em cada indivíduo num curto intervalo de tempo. Embora o País seja referência internacional em ações semelhantes, planejar a melhor forma de levar a vacina a cada brasileiro é hoje o principal desafio da 
gestão da Saúde Pública  

Para ter sucesso, será preciso motivar a população a tomar a primeira dose e, depois, retornar para completar o ciclo de imunização. O uso de tecnologia promove mais facilidade e precisão a esse complexo planejamento. O modelo pode ser usado não apenas contra o coronavírus, mas também para outras vacinas igualmente importantes.

“Um dos maiores problemas no sistema público de Saúde é a gestão da informação. Mesmo com a inclusão dos dados de vacinas no Prontuário Eletrônico do Paciente, o PEP,  desde 2019 ainda há o que eu chamo de cegueira epidemiológica em relação aos dados da Saúde Suplementar que não são agregados ao sistema. É o caso, por exemplo, das vacinas que são dadas na rede privada e que não estão sendo computadas”, explica Januario Montone, primeiro presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo.  

Adicionalmente, o estágio de implantação do prontuário eletrônico do SUS ainda é muito baixo. Dados do Ministério da Saúde publicados no fim de 2019 apontam que, das 42,8 mil unidades básicas de Saúde (UBS) espalhadas pelo País, apenas 49% utilizam sistema digital. Em 2017 esse número era de 43%, portanto, o crescimento foi pequeno de lá para cá, apesar de todos os avanços tecnológicos, especialmente após a pandemia da Covid-19.

 

Se não dá para contar apenas com as informações coletadas pelo SUS, de onde então vêm os dados que ajudam a compor o Programa Nacional de Vacinação?

“As definições sobre a quantidade de vacinas necessárias nas campanhas de imunização são feitas a partir de dados do IBGE, de projeções das áreas técnicas em epidemiologia do Ministério da Saúde e dos levantamentos realizados pelas secretarias municipais e estaduais de Saúde.” Responde é Montone, mas o 'buraco negro' de informações epidemiológicas ainda é grande.  

Entenda quatro possíveis formas de a tecnologia apoiar a gestão da Saúde Pública a planejar as campanhas de vacinação com mais eficiência:

 

1. Mapear a saúde populacional para fazer campanhas regionalizadas 

O mapeamento populacional atualmente apresenta falhas principalmente porque entre 22% e 23% da população ainda não possui cadastro no SUS.

“E mesmo o cadastro existente ainda é falho, com falta de detalhes e muita agregação estatística com as quais as secretarias estaduais e municipais, o Ministério e o DataSUS trabalham”, explica o ex-secretário.

Ter dados mais seguros e confiáveis sobre a saúde da população permitirá até que se pense em campanhas dirigidas a cidades e Estados onde há mais necessidade de imunização.

 

2. Mensurar a demanda correta de imunizante para cada campanha 

Uma vez resolvida a integridade dos dados para o mapeamento populacional, será mais fácil pensar na gestão de insumos e imunizantes necessários para cada região, pensando tanto na quantidade necessária quanto em maneiras de realizar o transporte adequado. Nesse ponto, um sistema de gestão da Saúde Pública auxilia no planejamento e distribuição dos recursos conforme a demanda, já que é possível criar, por exemplo, alerta para abertura de licitação, ou mesmo cruzar informações populacionais para identificar as maiores demandas e se planejar para elas, entre outras funcionalidades.

 

3. Manter uma busca-ativa dos vacinados para retornarem em novas campanhas

A partir da vacinação contra o coronavírus, os estados montaram sistemas próprios de controle e já têm buscado formas de engajar o cidadão a retornar para a segunda dose e completar o ciclo de imunização. No futuro, esses banco de dados poderá ser usado para chamados dirigidos de novas campanhas, que poderão até fazer recortes entre os indivíduos e selecionar os grupos prioritários, indicando, por exemplo, o local que ele deve comparecer para a vacinação.

 

4. Unificar e integrar as informações existentes com as do setor privado de Saúde

Se os dados do sistema público ainda são incompletos, a unificação com o sistema privado de Saúde, que já possui e gerência as informações de seus beneficiários, pode ajudar a montar um panorama mais próximo da realidade populacional brasileira. Ainda que esses dados sejam pulverizados entre diferentes operadoras de Saúde, se a tecnologia ajudar a reunir tudo, será possível localizar com mais rapidez os surtos e analisar riscos epidêmicos no futuro. 

“O Estado ainda está muito atrasado na implantação de tecnologia na gestão da Saúde Pública. E eu só enxergo a melhora desse aspecto com uma forte participação do setor privado para evitar que as diferenças entre os dois modelos se tornem intransponíveis”, alerta Montone.  

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