Atenção primária como estratégia de gestão de operadoras de Saúde

ANS lança projeto para incentivar a prática e, assim, reduzir custos com doenças e agravos; coletar e organizar dados dos beneficiários auxilia a criação de programas preventivos

Atenção primária como estratégia de gestão de operadoras de Saúde

Conhecida como a porta de entrada dos usuários no sistema de Saúde, a atenção primária, também chamada de atenção básica, é o primeiro atendimento à população, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Seu objetivo é orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar casos de evolução de enfermidades e direcionar os mais graves para níveis de atendimento mais complexos, como os hospitais. O modelo atua como um filtro capaz de organizar o fluxo da assistência e, embora esteja mais presente no Sistema Único de Saúde (SUS), recentemente começou a fazer parte das estratégias de gestão de operadoras de Saúde.

Segundo a OMS, a maioria das necessidades de Saúde da população deve ser atendida e solucionada nesse nível, ou seja, antes que evolua e necessite de uma estrutura hospitalar, constituindo etapa mais trabalhosa, onerosa e com mais riscos. No Brasil, há diversos programas públicos relacionados à atenção primária, como a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços multidisciplinares às comunidades por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Depois de muito sentir no bolso o peso dos gastos com tratamentos de doenças já instaladas, a gestão de operadoras de Saúde passou a se espelhar no sistema público e a replicar o modelo, para complementar as ações já aplicadas em medicina preventiva. São iniciativas como clínicas ambulatoriais e pronto-socorros próprios, que realizam a triagem antes de encaminhar o paciente aos hospitais, priorizando atendimentos de prevenção e de baixa complexidade.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), inclusive, apresentou em abril de 2018 seu projeto de Atenção Primária à Saúde (APS). A iniciativa prevê a concessão, por intermédio de entidades acreditadoras independentes, de selo de qualidade às operadoras que cumprirem requisitos pré-estabelecidos. O objetivo do selo APS, cuja adesão é voluntária, é estimular a qualificação, o fortalecimento e a reorganização da atenção básica. O projeto propõe, ainda, a implantação de modelos adequados de remuneração de prestadores, com foco no cuidado do paciente e na adoção de indicadores para monitoramento dos resultados.

O projeto APS pretende envolver a coordenação e a integração do cuidado centrado no paciente, incentivando o desenvolvimento de estratégias para lidar com enfermidades crônicas não-transmissíveis mais prevalentes em adultos e idosos (como doenças cardiovasculares, respiratórias, diabetes e câncer), condições ligadas ao ciclo de vida de crianças e adolescentes, à maternidade e ao período perinatal, além de distúrbios emergentes como depressão e quadros de demência. Enfermidades bucais, a exemplo de cárie e doença periodontal, também poderão ser tratados no programa.

Rodrigo Aguiar, diretor de desenvolvimento setorial da ANS, destaca que a atenção primária propõe a desconstrução do modelo de Saúde Suplementar vigente.

"Esse modelo tem se mostrado ineficaz. Hoje, o indivíduo começa o atendimento em uma instância de maior complexidade, como o hospital, e não encontra organização e linearidade no cuidado. Dessa forma, recebe assistência fragmentada e que gera muitos desperdícios ao longo do sistema.”

Com o projeto, espera-se a ampliação do acesso dos beneficiários a médicos generalistas, a vinculação dos doentes crônicos a coordenadores de cuidado, a redução das idas desnecessárias as unidades de urgência e emergência e das internações relacionadas a casos que podem ser resolvidos na atenção primária, além da ampliação da proporção de usuários que fazem uso regular de um mesmo serviço de Saúde. Esses itens serão medidos por indicadores específicos. A ANS estima que a atenção primária resolva de 80% a 85% dos problemas de saúde da população.

Estratégias como essa e outras em andamento tem alto potencial para reduzir custos nas operadoras de Saúde. No entanto, embora pareçam simples, a complexidade é elevada.

“Alterar o modelo mental de trabalho e colocar o foco na prevenção é complicado porque depende das pessoas, tanto os profissionais de Saúde quanto os pacientes. Prevenir doenças envolve, basicamente, orientações de dieta, atividade física, perda de peso, controle de hipertensão, colesterol, tabagismo. É preciso engajar o paciente”, destaca o coordenador adjunto do curso de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Fernando Teles de Arruda.

“Mesmo com as dificuldades, é uma baita estratégia de mercado para as operadoras porque barateia o tratamento e desospitaliza o beneficiário. Este é o grande movimento dos últimos anos, por exemplo, lançando mão de hospitais-dia e serviços de home care.”

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Além do fator humano, a tecnologia também auxilia a implantação de estratégias de atenção primária. Um sistema de gestão de operadora, por exemplo, reúne dados fundamentais para a implementação de programas de prevenção.

“Se em determinada região há maior incidência de certas doenças, o software mostra isso e os gestores podem reforçar a prevenção da enfermidade”, explica Antero Matias, coordenador da pós-graduação em gestão hospitalar da Metodista.

“Mas, para isso, é fundamental integrar os dados e engajar os colaboradores para o pleno uso das ferramentas.”

Com a atenção primária aliada à tecnologia, o especialista garante que a gestão da operadora de Saúde alcança a eficiência e proporciona mais saúde e qualidade de vida ao beneficiário.

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