Como vencer os maiores desafios da saúde pública brasileira

Por incrível que pareça, pior que a quantidade de médicos é sua distribuição irregular pelo território nacional

Como vencer os maiores desafios da saúde pública brasileira

O Brasil tem um contingente de mais de 400 mil médicos. São dois médicos para cada mil habitantes na demografia nacional, proporção bem abaixo da ideal. Em estados como o Maranhão, o índice de médicos por habitante é semelhante ao de países como o Iraque! E esse é apenas um dos diversos desafios da saúde pública brasileira.

Com insuficiência de fontes de receitas para o setor, alto custo de aquisição e manutenção de equipamentos e medicamentos, crescimento populacional acima da média e aumento da expectativa de vida do brasileiro, os pontos de pressão sobre a rede pública são imensos. Será ser possível vencer todos esses percalços e oferecer um atendimento de qualidade? Listamos, os sete maiores obstáculos do setor de saúde para você ir pensando em como neutralizá-los.

Aliviar o atendimento em prontos-socorros e hospitais

A expressão-chave aqui é atenção primária, que poderia muito bem ser chamada de atenção prioritária. Em um país com baixa cultura da prevenção e onde a maioria dos gastos públicos com internações se refere ao agravamento de enfermidades que poderiam ser evitadas, a atenção básica é fundamental para reduzir a pressão sobre os prontos-socorros e hospitais da rede pública. Aí entram os Programas Saúde da Família (PSFs), o Programa Remédio em Casa, além de mutirões de vacinação, orientações em prevenção à hipertensão, acompanhamento psicossocial, dentre outras ações.

A título de comprovação, basta citarmos aqui os resultados de um levantamento feito por uma pesquisadora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP: ficou constatado, há alguns anos, que 50% das internações infantis (em geral, causadas por infecções respiratórias não crônicas, como gripe, sinusite e pneumonia) poderiam ser evitadas por meio de ações de atenção primária. E não dá para simplesmente virar as costas para esse número, concorda?

 

Proporcionar melhorias significativas na produtividade

Para melhorar a qualidade no atendimento e a produtividade dos profissionais da área de saúde, é preciso contar com uma equipe coesa e motivada. Isso só pode ser alcançado se os colaboradores (médicos, enfermeiros, radiologistas, recepção e demais) adquirirem consciência da responsabilidade humanitária de seus ofícios, bem como se tiverem metas definidas e estímulos profissionais que os impulsionem a atingi-las.

Por essas e outras, estabelecer metas qualitativas e quantitativas em conjunto com todo o time de cada unidade de saúde é o primeiro passo para formar uma instituição mais produtiva. Em seguida, passa-se à gestão do alcance desses alvos por meio de soluções de gestão hospitalar. Por fim, vale estimular o pagamento de gratificações por desempenho, com base nos resultados obtidos. Acredite, esse trio pode fazer uma diferença e tanto!

 

Ampliar a rede com avanços na infraestrutura pelas PPPs

As Parcerias Público-Privadas (PPPs) já vêm sendo usadas por alguns governos em áreas não assistenciais da saúde, especialmente voltadas à infraestrutura. É nesse âmbito, aliás, que as PPPs podem ser consolidadas, a fim de ampliar a rede de saúde de um município na construção de novas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), por exemplo, como fez o município de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no último mês de abril.

 

Atrair profissionais capacitados com planos de carreira

Não há como negar que um dos maiores desafios da saúde pública brasileira é formar recursos humanos dotados das competências necessárias para atuar no complexo ambiente hospitalar. Costuma ser nítido, em boa parte dos casos, o despreparo dos profissionais que atuam na rede pública. A remuneração inferior à da rede privada, em geral, afasta os profissionais de excelência do SUS, sem contar que a falta de uma política de gestão de pessoas focada na motivação, na valorização profissional pelo alcance de metas e em incentivos que estimulem sua participação ativa acaba formando um exército de servidores públicos desinteressados e profissionalmente frustrados. Mas esse desafio pode ser combatido basicamente por duas frentes:

 

Redesenho da política de salários de médicos e enfermeiros

Essa iniciativa, por si só, já mudará o perfil dos profissionais da área médica inscritos nos concursos públicos da rede (lei de oferta e demanda), melhorando a qualidade do capital humano nos hospitais e prontos-socorros dos estados e municípios. Como? Fortalecendo as fontes de financiamento da saúde pública por meio, por exemplo, da renegociação da dívida dos estados e municípios com a União.

 

Direcionamento de recursos para capacitação profissional

A ciência está em constante evolução, impondo a médicos e enfermeiros a obrigação de estarem sempre envolvidos com cursos e programas de capacitação. O poder público pode subsidiar tais ações, resultando na elevação do nível técnico da equipe, bem como no aumento de sua motivação e satisfação com o trabalho. O profissional tende sempre a devolver em produtividade e eficiência a confiança que lhe é depositada. Isso vale também para os servidores da área administrativa, que devem ser treinados no atendimento humanizado, em gestão de políticas públicas, no gerenciamento eficiente das rotinas do hospital e assim por diante.

 

Reduzir as deficiências locais na gestão hospitalar

Um estudo feito em 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que a falta de medicamentos nos hospitais públicos do país está muito mais relacionada a falhas na gestão do que à ausência de recursos. Em 53% dos 116 hospitais auditados, viu-se falhas no controle de medicamentos, colocando a vida de milhares de cidadãos em risco. Na maioria das instituições públicas, não há nenhuma política de compliance: o controle sobre a entrada e a saída de remédios é feita rudimentarmente, sem sistemas de gerenciamento de desempenho dos servidores da área administrativa. Isso sem contar que a gestão de custos costuma ser feita por profissionais sem qualquer formação na área financeira ou contábil.

A razão para a ineficiência usualmente vista na gestão dos hospitais públicos do país está na cultura de designação dos gestores hospitalares baseada em critérios políticos. Se a maior autoridade da instituição pouco conhece de gestão e não está comprometida com o alcance de nenhum objetivo específico (nem será cobrada pelos resultados por parte de seus superiores), a tendência é que ela não consiga reger a orquestra do hospital com a harmonia desejada. O responsável pela saúde pública do município ou estado deve, portanto, indicar gestores locais com experiência não somente na área médica, mas também em gestão, acompanhando de perto cada um dos designados por meio de cobrança de resultados efetivos, com o cumprimento de metas previamente estabelecidas.

 

Diminuir a espera na recepção dos hospitais públicos

A informatização da rede para aumentar a rotatividade nas filas de espera é um dos pontos mais importantes para redesenhar a qualidade da prestação de assistência à saúde no Brasil. Isso porque ainda são poucos os hospitais brasileiros com um sistema de gestão. A coleta informatizada dos dados clínicos-assistenciais por meio de um prontuário eletrônico reduz o consumo de materiais de escritório e aumenta a velocidade do atendimento, além de diminuir as chances de erros.

Um sistema de gestão permite o trabalho com análise preditiva, portanto, o aumento da previsibilidade na eclosão de epidemias, o que significa estar pronto para lidar com elevações sazonais de demanda e, assim, reduzir o tempo de espera nas recepções hospitalares.

Quem pode testemunhar tudo isso é a Prefeitura de Mogi das Cruzes, em São Paulo, que sistematizou suas 44 unidades de saúde, alcançando ainda no curto prazo um controle melhor, uma gestão eficiente dos recursos e um atendimento muito mais rápido. Até o disparo automático de SMS foi usado para reduzir o percentual de faltas nas consultas (com extremo sucesso, diga-se de passagem). A Prefeitura de Mogi venceu um dos maiores desafios da saúde pública brasileira com o auxílio das soluções de TI.

Realmente são muitos os desafios, mas também existem muitas alternativas!

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