Passo a passo para a gestão hospitalar monitorar os riscos assistenciais

Acompanhar a rotina do paciente, notificar erros e implementar rotinas de dupla checagem na assistência são algumas das boas práticas para um melhor gerenciamento de riscos

Passo a passo para a gestão hospitalar monitorar os riscos assistenciais

Durante o período de internação, o monitoramento de todo e qualquer evento adverso pela gestão hospitalar garante não só a segurança do paciente, mas de toda a instituição de saúde. Ainda mais porque existem riscos assistenciais que são completamente evitáveis com a adoção de atitudes simples realizadas por todas as equipes do hospital.  

“Pense, por exemplo, no risco de queda do paciente, disparado o evento assistencial evitável mais comum de acontecer. Cabe à enfermagem manter sempre as grades do leito levantadas, enquanto a equipe de limpeza tem a responsabilidade de deixar a sinalização adequada em pisos escorregadios”, descreve Vanderson Matos, especialista em gestão da qualidade em serviços de Saúde e docente de pós-graduação e MBA em gestão em Saúde.  

Reduzir a quantidade de eventos adversos evitáveis preocupa a gestão hospitalar há mais de uma década. Em 2010, por exemplo, um levantamento divulgado pela revista Elsevier, feito com pacientes internados em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro, já mostrava que, dos 622 prontuários analisados, 6,3% registraram algum evento adverso por cuidados inseguros durante a prestação da assistência. E mais, esses mesmos pacientes tiveram alta de 200,5% no valor médio pago pelo atendimento em comparação com aqueles que tiveram alta no tempo planejado, implicando em um gasto superior a R$ 1 milhão.

Em estudos mais recentes, a prevalência de eventos adversos relacionados à assistência hospitalar girava em torno de 6,4% (no Sistema Único de Saúde — SUS) a 7,1% (na Saúde Suplementar) em 2018. Os dados são de levantamento do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS). E dados do mesmo ano, estes do NHS (o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido), apontam que toda e qualquer intervenção na Saúde apresenta mais risco que atividades como pular de bungee jump ou escalar montanhas. À primeira vista, esse dado pode até chocar, porém, ao avaliar a quantidade de pessoas, etapas e variáveis envolvidas na assistência, torna-se até compreensível. 

“E ainda há muita subnotificação dentro dos hospitais, com profissionais cuidando de pacientes após um evento adverso, mas se esquecendo de abrir um registro. E essa é uma cultura que a gestão hospitalar deve trabalhar com seus colaboradores para conseguir melhorar a segurança do paciente e a qualidade dos serviços oferecidos”, alerta o especialista. 

A tecnologia que mensura e monitora riscos assistenciais é uma opção segura aos hospitais, especialmente na prevenção de eventos.

“É que o uso de um sistema de gestão hospitalar garante ferramentas e indicadores capazes de identificar, em cada um dos processos, quais são os principais perigos que existem em relação à assistência ao paciente”, diz Matos, chamando a atenção para a possibilidade de traçar planos de ação eficazes para melhoria contínua da gestão da qualidade.  

O especialista detalha o passo a passo para implementar o monitoramento dos riscos assistenciais no hospital:

 

Passo 1: Mapear os processos institucionais

Somente ao compreender melhor o escopo de cada processo no hospital é possível entender de fato quais são as principais necessidades. Portanto, tenha conversas informais com membros de cada uma das equipes da instituição, desde médicos até funcionários de segurança, e perceba onde o paciente está inserido e qual etapa do processo ou da assistência é preciso monitorar.

“E fica o alerta: mesmo depois de implantar um sistema informatizado, é fundamental continuar a mapear o processo, porque pode ser que haja a inserção de algo errado no sistema”, reforça Matos

 

Passo 2: Identificar os potenciais riscos ao paciente 

São justamente esses dados que, depois, serão usados como indicadores importantes para mensurar em qual patamar a instituição está em relação ao monitoramento dos riscos.

 

Passo 3: Criar uma cultura de notificação

“Precisamos trabalhar para que os colaboradores entendam a importância de gerenciar o monitoramento dos riscos, sempre pensando na segurança do paciente como foco principal da instituição”, lembra o especialista.

Para tanto, Matos indica instituir uma cultura de segurança e de comunicação que favoreça a notificação, além de desenvolver uma ferramenta para que todos os colaboradores possam notificar eventos adversos que venham a acontecer e que, de forma direta ou indireta, podem impactar o paciente.

“A gestão hospitalar deve evitar tratar as notificações de forma punitiva sob pena de atrapalhar o processo”, alerta.  

 

Passo 4: Definir protocolos

Após compreender melhor seus processos, é hora de a gestão do hospital estabelecer padrões de como serão os atendimentos dos pacientes a partir de agora em cada etapa da estadia na instituição, sempre avaliando os riscos assistenciais.

“Eu sugiro a realização de reuniões trimestrais de brainstorming com integrantes de várias equipes para entender melhor os riscos atuais e, assim, poder tratá-los e prevenir que voltem a acontecer a partir da definição de protocolos”, resume Matos

 

Passo 5: Mensurar os dados através de indicadores

É preciso compreender bem o que acontece no dia a dia da assistência com um olhar crítico para as notificações, tentando compreender se elas, de fato, ocorreram apenas neste percentual ou se ainda há subnotificação das equipes.

 

Passo 6: Mensurar os danos

Nesse aspecto, é preciso saber quais foram as consequências para o paciente de um efeito adverso.

“Ele ficou mais tempo internado, teve alguma piora em seu quadro clínico ou regrediu de sua evolução terapêutica?”, enumera Matos.

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Passo 7: Avaliar o processo pensando em melhoria contínua

Com esse último passo, voltamos ao ponto de mapear o processo, mas agora com um olhar de avaliação.

“É crucial fazer uma análise crítica de indicadores, reuniões com equipe para entender o que aconteceu e ter conhecimento do plano de ação imediato e posterior", diz o especialista.   

A gestão hospitalar está mais que preparada para o desafio de monitorar os riscos assistenciais. Hoje é grande o número de instituições que investem em profissionais qualificados, processos bem instituídos e altas tecnologias para um atendimento focado na segurança e no cuidado centrado no paciente.

“Porém, eu acredito que, com a evolução do sistema de Saúde, as instituições precisam estar preparadas para que o monitoramento acompanhe o crescente número de pacientes sem resultar em um maior risco assistencial”, acredita Matos. 

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