4 formas de a gestão da Saúde Pública organizar a fila de atendimento
Recursos da Saúde Digital são um caminho para solucionar o enorme desafio que é reduzir a espera por consultas e exames diagnósticos pelo Sistema Único de Saúde, o SUS
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A fila de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) é contínua, mas, seguindo o princípio da lei da oferta e da procura, os gargalos aumentam toda vez que a demanda é maior que a quantidade disponível de consultas e exames diagnósticos. Exatamente o que aconteceu em 2020.
Cuidar da gestão da Saúde Pública já não era tarefa simples antes da pandemia da Covid-19, mas, hoje, após 11 meses de adiamentos de procedimentos eletivos, é primordial aos gestores buscar formas eficazes para organizar a retomada do atendimento em hospitais públicos municipais e estaduais. Nesta missão, tecnologia pode ajudar.
Para Wilson Pollara, atual superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), a primeira medida a ser tomada é identificar a capacidade de atendimento de cada prefeitura e/ou Estado.
“Se tenho vagas para realizar 100 ultrassons por dia e a demanda represada da minha cidade é de 150, preciso quantificar esse atraso”, exemplifica Pollara.
Pois só conhecendo bem o cenário, é possível começar a agendar os 100 ultrassons diários daquele momento em diante, e buscar medidas extras para zerar o excedente o mais rápido possível. Do contrário, a fila nunca para de crescer — e se torna um grande desafio para a gestão em Saúde.
Ainda não há um estudo que dimensione quantos procedimentos ficaram represados no SUS durante os piores meses da pandemia no Brasil. Em 2019, 17,3 milhões de pessoas com 18 anos ou mais de idade procuraram algum serviço da Atenção Primária à Saúde na rede pública e, em tese, toda essa gente precisaria voltar a receber algum tipo de assistência quanto antes. A questão mais latente agora para a gestão da Saúde Pública é lançar mão de outros recursos além daqueles disponíveis nas prefeituras e Estados para resolver o problema da fila. O especialista cita abaixo alguns possíveis caminhos:
1. Adoção da telemedicina como parte de um sistema híbrido de atendimento
Se antes os médicos estavam receosos em usar a tecnologia para realizar consultas, especialmente por medo de errar no diagnóstico ao não ter contato físico com o paciente, durante a pandemia a telemedicina e seus braços, como a teleorientação, comprovaram seu valor e foram ferramentas importantes de assistência à saúde. O futuro, segundo Pollara, é a incorporação da tecnologia em um sistema híbrido de atendimento.
“A telemedicina é muito bem usada em consultas de triagem, podendo ser conduzida por médicos ou enfermeiras, em casos mais simples. Depois, faz-se necessária uma consulta presencial, para o exame físico e a elaboração da hipótese diagnóstica”, explica o especialista.
Após disso, é normal que o paciente retorne para uma consulta de apresentação de exames, que também pode ser feita virtualmente. Por fim, caso um tratamento contínuo seja adotado, consultas de ajustes da dose se medicamentos também podem ser feitas por telemedicina.
2. Criação de consórcios intermunicipais para atendimento de demandas de cidades próximas
Um consórcio intermunicipal visa unir municípios localizados em áreas geográficas próximas para otimizar a oferta de serviços de Saúde, principalmente os de maior complexidade e custo. Beneficia especialmente cidades menores, já que seus cidadãos contam com especialidades, exames e procedimentos que antes não dispunham ou para os quais são preciso percorrer longas distâncias em busca de unidades de referência do sistema público, geralmente localizadas em grandes centros urbanos. Quando utiliza recursos da Saúde Digital, a distribuição das vagas se torna mais ágil e justa.
Conforme o especialista, especialmente os hospitais de especialidade das capitais costumam receber pacientes de municípios próximos para atendimentos complexos. Em São Paulo, Pollara cita o HCor, o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e o Hospital de Amor, que trata o câncer em Barretos.
3. Realização das chamadas “carretas da saúde”
A ideia funciona tanto para exames quanto para consultas. Consiste no deslocamento de unidades móveis para cidades específicas com o intuito de ajudar a zerar a fila de espera por um procedimento específico. Assim, em um ou dois dias, mais de 200 tomografias podem ser realizadas, permitindo à gestão da Saúde Pública organizar melhor as novas demandas por esse tipo de exame.
4. Contratação de Organizações Sociais da Saúde (OSS)
Nesse modelo, o governo municipal ou estadual contrata um serviço específico de instituições filantrópicas do terceiro setor, as OSSs, que pode ser, por exemplo, 1.000 consultas ginecológicas ao mês ou 500 mamografias. Dessa forma, o secretário de Saúde obtém um recurso a mais para gerenciar o déficit de atendimento em sua região.
“O modelo é ótimo para a Saúde Pública porque contorna a limitação de responsabilidade fiscal estabelecida pela Lei Camata, na qual é proibido o gasto acima de 30% do orçamento em RH. Para se ter uma ideia, em hospitais, o gasto com pessoal (médicos, enfermeiros e outros) pode chegar até a 85% do total”, exemplifica Pollara.
Com essas e outras estratégias, a gestão da Saúde Pública organiza a demanda e garante o acesso — e o direito — previsto por lei a todos os brasileiros.