Triagem hospitalar: protocolo de Manchester, tecnologia e integração da jornada do paciente

A classificação de riscos baseada em cores é largamente utilizada nos hospitais brasileiros, e a integração da metodologia com software e equipamentos pode deixar tudo ainda mais rápido e seguro

Triagem hospitalar: protocolo de Manchester, tecnologia e integração da jornada do paciente

A triagem hospitalar com base em uma classificação de riscos é usada nas unidades de Urgência e Emergência em Saúde para priorizar a assistência conforme o estado de saúde dos pacientes. Há diversos protocolos em uso no mercado — O Humaniza SUS é um exemplo disso, presente na rede pública de saúde, enquanto hospitais estabelecem suas próprias diretrizes de conduta.

Contudo, no geral, um protocolo escolhido por boa parte dos hospitais no Brasil é, hoje, o protocolo de Manchester.  

 

A importância da triagem hospitalar

A triagem hospitalar desempenha um papel crucial na eficiência e organização dos serviços de saúde. A sua principal função é classificar os pacientes com base na gravidade de sua condição, permitindo a priorização do atendimento. Essa prática é fundamental para otimizar recursos, assegurando que casos mais urgentes recebam atenção imediata e que os recursos, como leitos e equipe médica, sejam alocados de maneira eficiente.

Além disso, a triagem desempenha um papel vital na identificação rápida de emergências médicas, contribuindo para intervenções imediatas em casos de traumas graves ou condições que ameacem a vida. Essa prontidão é essencial para salvar vidas e garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado no momento certo.

Outro benefício da triagem é a prevenção da propagação de doenças, especialmente em casos de enfermidades infecciosas. Ao isolar rapidamente pacientes com condições contagiosas, a triagem reduz significativamente o risco de disseminação para outros pacientes, visitantes e profissionais de saúde.

Em termos de eficiência no atendimento, a triagem contribui para uma gestão mais eficaz do fluxo de pacientes, evitando congestionamentos e direcionando cada paciente para a área apropriada de tratamento. Isso não apenas reduz o tempo de espera, mas também proporciona uma experiência mais positiva para o paciente, aumentando a satisfação geral.

Além disso, a triagem contribui para a redução de custos ao prevenir hospitalizações desnecessárias e otimizar o uso de recursos. 

Essa prática é essencial não apenas para o hospital, mas também para o sistema de saúde como um todo, garantindo uma utilização eficaz dos recursos limitados disponíveis. Em resumo, a triagem hospitalar é uma peça fundamental no sistema de saúde, garantindo que os pacientes recebam atendimento adequado, rápido e eficiente, especialmente em situações de emergência.

De forma geral, os protocolos de triagem visam agilizar o atendimento à emergência otimizando os recursos hospitalares, sejam eles humanos ou tecnológicos, para poderem ser usados nas pessoas que mais necessitam deles naquele momento, tudo num contexto clínico que permite à gestão hospitalar ser mais eficiente na classificação de riscos. 

 

Quais são os métodos tradicionais de triagem hospitalar?

  • Triagem por ordem de chegada: Nesse método, os pacientes são atendidos na ordem em que chegam ao hospital. No entanto, a prioridade pode ser ajustada com base em uma rápida avaliação da gravidade da condição.
  • Questionários e entrevistas rápidas: Profissionais de saúde realizam questionários rápidos e entrevistas para avaliar os sintomas e a história clínica do paciente. Essa abordagem pode ser combinada com a observação direta da condição do paciente.
  • Algoritmos clínicos pré-estabelecidos: Hospitais muitas vezes desenvolvem algoritmos clínicos pré-estabelecidos com critérios específicos para diferentes condições médicas. A equipe de triagem pode seguir esses algoritmos para avaliar a gravidade da condição.
  • Sistema de pontuação: Alguns hospitais usam sistemas de pontuação, como o Sistema de Triagem de Manchester (Manchester Triage System - MTS), que atribui pontos com base em sintomas e sinais vitais. Quanto maior a pontuação, maior a prioridade.
  • Triagem por especialidade: Em alguns casos, os hospitais podem realizar triagens por especialidade, encaminhando pacientes diretamente para departamentos específicos com base na natureza da condição.
  • Avaliação de enfermeiros e profissionais de saúde: Enfermeiros e outros profissionais de saúde desempenham um papel crucial na triagem, avaliando a condição do paciente com base em sua experiência clínica.
  • Sistema de cores - Protocolo de Manchester: Em alguns hospitais, são usados sistemas de cores para categorizar a gravidade do estado do paciente. Por exemplo, cores como vermelho, amarelo e verde podem ser atribuídas para indicar a urgência do atendimento.

É importante notar que a abordagem exata pode variar entre diferentes hospitais e regiões. Recentemente, muitos hospitais têm considerado a integração de tecnologias para melhorar a precisão e eficiência do processo. Essas tecnologias podem incluir algoritmos de aprendizado de máquina que analisam dados clínicos para classificar a gravidade da condição do paciente.

Como destaque dentre as opções, vamos falar do protocolo de Manchester, que usa as cores vermelho, laranja, amarelo, verde e azul para facilitar essa orientação — e a segurança do paciente pode ser ainda maior se, junto da metodologia, for adotada a tecnologia. 

O protocolo de Manchester é fundamental para a triagem dos pacientes com maior probabilidade de estar sofrendo um evento clínico grave. E, para isso, leva em consideração dados como a frequência cardíaca e respiratória, a temperatura, a queixa do paciente e seu estado geral, para classificar o risco a partir de uma escala de cores de fácil identificação. Assim, a equipe assistencial saberá facilmente para onde ele deve encaminhar o paciente e o tempo que ele pode aguardar para ser atendido

resume Fernando Teles de Arruda, médico e coordenador do curso de medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), com passagens como gestor pelas Santas Casas de Araraquara e Ribeirão Preto. 

Conheça as cinco classificações do protocolo de Manchester: 

  • Vermelho — Emergência. Requer atendimento imediato.  
  • Laranja — Muito urgente. Atendimento nos próximos 10 minutos. No Brasil esta classificação foi englobada à cor vermelha e, por isso, o laranja caiu desuso. 
  • Amarelo — Urgente. Atendimento em até 60 minutos.  
  • Verde — Pouco urgente. Atendimento em 120 minutos.  
  • Azul — Não urgente. Atendimento em 240 minutos.  

Protocolos de triagem são baseados em processos para que as equipes bem treinadas possam ter a sensibilidade de identificar os pacientes potencialmente mais graves. Também ajudam a garantir uma maior especificidade nessa seleção, pois mais de um indicador é levado em conta.

conta Arruda, exemplificando:

Pense que a frequência cardíaca elevada pode indicar casos graves, como arritmias e sepse, mas também é sinal de uma crise de ansiedade. É por isso que sempre é usado mais de um item nessa classificação.

 

Qual a importância da triagem e fluxo de pacientes para a gestão de um hospital

A triagem e o fluxo de pacientes desempenham papéis fundamentais na gestão eficiente de um hospital, impactando positivamente tanto na qualidade do atendimento quanto na alocação adequada de recursos. Aqui estão algumas das razões pelas quais a triagem e o fluxo de pacientes são essenciais para a gestão hospitalar:

 

Priorização e alocação de recursos

A triagem permite a classificação dos pacientes com base na gravidade de sua condição. Essa priorização é crucial para a alocação eficiente de recursos, como leitos, equipe médica e equipamentos, garantindo que os casos mais urgentes recebam atenção imediata.

 

Otimização do tempo de espera

Um fluxo de pacientes bem gerenciado, iniciando pela triagem, contribui para a redução do tempo de espera. Pacientes com condições mais urgentes são atendidos prontamente, melhorando a experiência do paciente e evitando atrasos no tratamento.

Melhoria na eficiência operacional

Uma triagem eficaz e um fluxo de pacientes bem gerenciado contribuem para a eficiência operacional do hospital. Isso resulta em processos mais suaves, reduzindo gargalos e otimizando o funcionamento de diferentes departamentos.

Identificação rápida de emergências médicas

A triagem é crucial para identificar rapidamente casos de emergência médica. Essa identificação precoce permite intervenções imediatas, salvando vidas e minimizando complicações.

 

Prevenção da propagação de doenças

A triagem também desempenha um papel na prevenção da propagação de doenças, isolando rapidamente pacientes com condições infecciosas. Isso é especialmente crítico para evitar surtos nos ambientes hospitalares.

 

Gestão eficaz do fluxo de pacientes

Um fluxo de pacientes bem gerenciado contribui para a gestão eficaz do movimento de pacientes dentro do hospital. Isso inclui uma transição suave entre diferentes departamentos, consultas, exames e procedimentos e até diferentes fluxos em diferentes sistemas dentro do mesmo hospital.

Há muitos hospitais que utilizam um sistema na emergência e outro, diferente, na internação, o que muitas vezes atrasa o atendimento e desperdiça recursos hospitalares.

complementa Arruda.

 

Satisfação do paciente

A triagem e um fluxo de pacientes eficientes resultam em uma experiência mais positiva para o paciente. Reduzir o tempo de espera e garantir atendimento adequado contribui significativamente para a satisfação geral do paciente.

 

Redução de custos

Ao evitar hospitalizações desnecessárias, otimizar o uso de recursos e prevenir complicações devido a atrasos no atendimento, a gestão eficaz da triagem e do fluxo de pacientes pode contribuir para a redução de custos operacionais.

Em resumo, a triagem e o fluxo de pacientes são componentes cruciais para a gestão eficiente de um hospital, impactando diretamente na qualidade do atendimento, na satisfação do paciente e na utilização eficiente dos recursos disponíveis. Esses processos são essenciais para garantir que os serviços de saúde sejam fornecidos da maneira mais eficaz e oportuna possível.

 

Uso de softwares na triagem

Antes da adoção dos protocolos de triagem, a ordem de chegada dos pacientes era preponderante para determinar a fila de atendimento, com crianças e idosos tendo prioridade.

E isso era ruim, porque critérios não clínicos possivelmente causaram o agravamento de condições clínicas que poderiam ser melhor socorridas

enfatiza o médico.   

Foi nesse contexto que o protocolo de Manchester surgiu e acabou sendo o mais difundido em hospitais brasileiros, já que é de fácil aplicação e treinamento para as equipes. E com o uso da tecnologia ele pode ser ainda mais eficiente.

Todo protocolo de triagem é baseado em pontuações para classificar resultados normais e alterados. E, nesse sistema binário, o uso de um software já determina a cor do risco de cada paciente a partir das informações que o profissional de Saúde adiciona ao sistema. O uso da tecnologia no processo de triagem dá início a uma cadeia de ações que emite os alertas necessários a toda a equipe, analisa os estoques de insumos para otimizar os recursos e dá início ao preparo de salas de cirurgia, entre outras ações relevantes para aquele paciente em si.

Enfatiza Fernando de Teles de Arruda, coordenador do curso de medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

 

Outros ganhos da tecnologia

A tecnologia pode acelerar a coleta dos dados vitais dos pacientes na triagem, com o uso, por exemplo, de um monitor para aferir os números em poucos segundos.

Dá para monitorar a frequência cardíaca e identificar arritmias de forma imediata e com hipermultiparâmetros

exemplifica o médico.  

Os equipamentos tecnológicos otimizam o tempo de triagem, aumentam a sensibilidade dos dados — que passam a ser exatos e sem o viés humano da aferição — e, por fim, trazem mais segurança às equipes assistenciais e, consequentemente,  à gestão hospitalar.

Com a tecnologia a triagem fica mais diretiva, mais rápida e mais precisa

elenca o especialista.  

Integração de dados e segurança

Ainda sobre o quesito segurança, a integração dos dados obtidos nessa jornada do paciente na instituição de saúde é a melhor forma do profissional saber do começo ao fim da assistência tudo o que aconteceu, como conta Arruda.

O Prontuário Eletrônico é a ferramenta mais confiável para traçar uma linha temporal de atendimento médico, identificando os profissionais e suas condutas. E essa informação pode ser ainda mais importante quando associada à integração desses dados com os exames realizados na emergência, além dos dados vitais e de outras descobertas importantes da triagem.

Só que ainda é comum encontrar falta de integração.

Claro que a integração e a universalização dos dados, bem como a aplicação da LGPD, devem ser bem discutidas em cada hospital para o acesso ser apenas pelas pessoas envolvidas na assistência. 

Assim, a tecnologia pode ser usada seguramente para salvar vidas.

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