Três perguntas e respostas sobre telemedicina

Modelo que alia redução de custos e qualidade da assistência é apontado como ideal por especialista alemão

Três perguntas e respostas sobre telemedicina

A telemedicina é uma realidade em diversos países, transformando a saúde e propondo novos modelos de negócio baseados no atendimento a distância. Em Madrid, capital da Espanha, a solução otimiza o tempo de espera por cuidados médicos e, ao mesmo tempo, economiza recursos. Implementado desde 2004, o modelo permite que dez hospitais de referência deem suporte a outros 14 do entorno, economizando cerca de 71 milhões de euros anuais. 

O conceito de assistência remota não é exclusivo de países desenvolvidos, mas também funciona naqueles que possuem vastas áreas, muitas vezes descobertas pela rede de saúde. Um exemplo é Camarões, que criou um programa destinado às mulheres de comunidades rurais afastadas. Ele funciona com base em um aplicativo que dá recomendações gratuitamente com base nos sintomas apresentados pelas usuárias. Até 2020, espera-se redução de ao menos 70% no índice de mortalidade materna no parto apenas com o uso da tecnologia.

Para tirar a cultura de inovação na saúde do papel, é preciso responder a três perguntas fundamentais, apresentadas por Andreas Keck, fundador da empresa alemã Syte Institute, especializada em saúde digital, em palestra no Global Summit Telemedicine & Digital Health, em março de 2019.

 

1. Telemedicina traz redução de custos?

Projetos de telemedicina exigem um investimento inicial, que inclui hardware com capacidade para vídeos e imagens, internet de alta velocidade, prontuário eletrônico, sistemas de gestão e outro software, a depender da especialidade, além de treinamento, adequação de processos e mudança de mindset. Após a implementação, o modelo tende a reduzir os custos, seja na assistência propriamente dita — com redução de filas, agilidade na consulta, entre outros —, assim como, minimizando a necessidade de exames e cirurgias de alta complexidade, com valor mais elevado.

 

2. Telemedicina traz vantagem para o paciente?

  • É possível manter a qualidade na assistência remota?
  • O diagnóstico é prejudicado pela falta de contato direto entre o médico e o paciente?

Estes foram alguns dos questionamentos de profissionais brasileiros que se posicionaram contra a resolução 2.227/2018, publicada e em seguida revogada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em fevereiro de 2019. O especialista alemão garantiu haver modelos que aliam o benefício assistencial à redução de custos, citando como exemplos um projeto de telemonitoramento de pacientes crônicos com problemas cardiovasculares e outro que criou o Centro Médio de Teledermatologia alemão. Ambos otimizaram o diagnóstico e possibilitaram melhorias na tomada de decisão dos profissionais de saúde sobre o melhor tratamento. Tudo depende do formato adotado e de quais tecnologias apoiam o profissional de saúde — incluindo aqui inteligência artificial, internet das coisas, impressão 3D, big data, entre outras.

 

3. Quem paga pela telemedicina?

No Brasil, o modelo de remuneração mais praticado ainda é o pagamento por serviço. Dentro dessa lógica e sem regulamentação adequada, especialistas temem que organizações lancem projetos de telemedicina apenas com objetivo de reduzir custos. O especialista acredita que o melhor modelo é aquele que alia a diminuição de gastos ao ganho na qualidade da assistência.

Lá fora, o compartilhamento de risco entre os fabricantes da tecnologia, as operadoras de Saúde e os prestadores de serviço e também o reembolso ao usuário são opções adotadas com sucesso. Keck garante que é possível construir novos modelos de pagamento e também de negócio com base em projetos de inovação na saúde que incluem telemedicina, colocando o indivíduo no centro e priorizam a entrega de valor. 

Responder a essas três questões é o primeiro passo para a criação de projetos que incluam a telemedicina como parte da cultura de inovação na saúde. Em um cenário onde 85% das instituições brasileiras pretendem investir em soluções de Saúde Digital, segundo estudo da revista Medicina S/A, é urgente a regulamentação do modelo. Afinal, a mesma pesquisa aponta que 97% dos gestores hospitalares mudariam suas decisões sobre investimentos em tecnologia neste caso — sendo que 80% direcionaria recursos para a teleconsulta.

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