Os novos benefícios empresariais e como a operadora de Saúde deve se preparar para eles
Empresas buscam parcerias para oferecer serviços de prevenção e qualidade de vida aos colaboradores, o que exige adaptação por parte das organizações de Saúde
A maioria dos planos de saúde no Brasil é ofertada por empresas aos seus colaboradores. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam que 67% dos beneficiários são atendidos por seguros coletivos (setembro de 2018). O perfil desses benefícios passou por mudanças nos últimos anos, partindo de uma visão paternalista para uma de compartilhamento da responsabilidade com a saúde do funcionário. Essa é uma tendência que acompanha o que se espera do futuro das operadoras de Saúde, com gestores cada vez mais preocupados em promover a qualidade de vida dos beneficiários e, assim, reduzir custos e ampliar a satisfação com os serviços.
Nesse cenário, planos com opções de academia, terapias alternativas, yoga, acupuntura, entre outros, ganham popularidade. Emmanuel Lacerda, gerente executivo de Saúde e segurança na indústria do SESI-DN, alerta para o potencial de redução de custos para a operadora com esse modelo.
"Além do aumento insustentável do custo assistencial, que chega a ser quatro vezes maior que a inflação, o sistema de Saúde fragmentado e reativo tem enorme impacto na produtividade do trabalhador, no sistema previdenciário e na competitividade das empresas."
O especialista comenta que trabalhadores que ficam perdidos na rede de Saúde, migrando de médico em médico e, consequentemente, fazendo hiper uso de exames e procedimentos desnecessários, podem demorar anos para ter o adequado diagnóstico e tratamento, gerando ainda mais custos para a empresa e para a operadora do plano de saúde.
"Esse processo descoordenado faz com que o trabalhador adoeça gravemente, perdendo funcionalidades, fazendo-o se afastar do trabalho inúmeras vezes e de forma prolongada, incapacitando-o precocemente."
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da Previdência apontam que o Brasil registra 2,5 milhões de benefícios por incapacidade temporária por ano, 375 mil novos benefícios por incapacidade permanente por ano e 700 mil trabalhadores afastados há mais de 3 anos. Esse é o reflexo de um sistema que não tem ênfase na promoção da saúde, na medicina preventiva e na manutenção da qualidade de vida.
Novas modalidades
Para Lacerda, contratantes e usuários devem ser vistos como agentes do sistema de Saúde.
"O cenário em todos os setores é de maior protagonismo, interação e autonomia do consumidor/usuário. Essa tendência é particularmente desejada na Saúde, pois prenuncia mudanças na relação entre atores, criando relações de maior transparência, parceria e confiança”, comenta.
Além disso, ela explica que, hoje em dia, fala-se em prosumidores, ou seja, consumidores que são também produtores. Assim como, negócios voltados para a tecnologia na saúde já fazem parcerias com empresas e operadoras para complementar o serviço de prevenção. As modalidades mais comuns oferecidas pelas empresas em conjunto com os planos de Saúde são:
- Desconto em serviços de academia para os funcionários: Musculação, ginástica, lutas e dança;
- Acupuntura: Operadoras de Saúde já tem até mesmo em seu quadro de profissionais especialistas em terapias preventivas como essa — exigência, inclusive, da ANS;
- Massagem: A prevenção de dores musculares também passa pelo desconto em terapias baseadas em massagem;
- Yoga: A Saúde mental também é considerada uma ação de prevenção. A filosofia japonesa pretende melhorar a respiração e qualidade de vida, e se torna aliada em muitos tratamentos psicológicos/psiquiátricos;
- Psicólogos: Entender como anda o estado da Saúde psicológica dos colaboradores é fundamental para manter a produtividade do negócio.
O futuro das operadoras
As transições epidemiológica e demográfica implicam que pessoas estão convivendo durante décadas com condições crônicas de saúde e suas limitações. Para o especialista, não é mais possível manter um sistema de Saúde voltado para condições agudas, onde o usuário é paciente, passivo e desconhece seus dados.
"Para ser efetivo e sustentável, o sistema de Saúde precisa empoderar seus usuários para que saibam como controlar as doenças e agravos que o acompanham ao longo de grande parte da vida. É necessário um compartilhamento de informações e de investimentos, que implica não apenas em mais responsabilidade do usuário, mas em mais poder de influir nas decisões que afetam sua vida."
Nesse contexto, a operadora de planos de saúde precisa pensar em como oferecer cada vez mais esses serviços. O primeiro passo, conforme o especialista, é ouvir o beneficiário.
"Quando o modelo de atenção à Saúde trata o paciente/usuário como agente da sua própria Saúde, passa a escutar esse usuário e, dessa forma, a reconhecer o que é valor para esse indivíduo."
O valor, quando centrado no cliente, deve se inserir num modelo de gestão em saúde contemporâneo e já testado internacionalmente, baseado no alcance da saúde populacional e não apenas de indivíduos. População, neste caso, deve ser interpretada como grupo de pessoas filiadas a um sistema de atenção à saúde, mediante critérios sanitários e não apenas financeiros. Prova disso são as ações que a própria ANS tem procurando estimular as operadoras de Saúde a adoção da Atenção Primária a Saúde em suas instituições.
A operadora do futuro se preocupa em não tratar o plano de Saúde do usuário apenas como um plano de doenças, mas sim em procurar parcerias para aumentar a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, a tecnologia pode ser grande aliada nessa missão. Um exemplo é utilizar os dados da ferramenta de Gestão de Relacionamento com o Cliente (Customer Relationship Management — CRM) para oferecer planos personalizados. A operadora de saúde deve usufruir, também, de sistemas de gestão que monitorem o paciente para saber de antemão suas necessidade, diminuindo assim os custos com tratamentos e internações.