O que esperar da gestão de Saúde no mundo pós-pandemia

Expansão da telemedicina é uma das principais promessas, mas gestão colaborativa, incentivo ao autocuidado e cuidado continuado também trarão mudanças profundas às organizações de Saúde

O que esperar da gestão de Saúde no mundo pós-pandemia

Uma das principais facetas da pandemia do coronavírus foi a aceleração digital das organizações. Em especial na gestão de Saúde, essa evolução se transformou em sinônimo de destravar antigas questões do setor, como o uso da telemedicina, o cuidado continuado e o incentivo ao autocuidado do paciente. Mas, o que se seguirá? 

Essa foi a pergunta feita pela equipe do Blog da MV a dois especialistas: Kleber Araújo, CMIO da Unimed Recife, e  Martha Oliveira, diretora executiva da Designing Saúde com passagens pela Qualirede, Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 

Leia abaixo as respostas:

 

Kléber Araújo, CMIO da Unimed Recife

"O acesso do paciente foi flexibilizado pelo atendimento remoto, e esse contexto gerou engajamento da família no processo do cuidado do ente querido. Há uma tendência de consciência por parte do paciente na promoção da própria saúde.

Nesse cenário, acredito que há uma oportunidade para que profissionais de Saúde passem a trabalhar com uma agenda híbrida, com atendimentos remotos intercalados com atendimentos presenciais, reduzindo assim as taxas de absenteísmo dos pacientes com maior dificuldade de deslocamento.  

Apesar dos ganhos evidentes que vimos durante a pandemia, o autocuidado depende muito do engajamento do paciente, uma questão de longo prazo. Por isso, a presença de uma equipe de Saúde na coordenação do cuidado continuado ainda é fundamental.  

Além da telemedicina e do trabalho remoto, outro ganho que deve permanecer no pós-pandemia é o aprendizado da gestão em Saúde sobre como atuar em cenários incertos. A formação e atividade de comitês de crise nos hospitais poderá ser aplicada em diversas outras situações, não só em eventuais pandemias. Trabalhar com capacidade de análise preditiva é uma característica que desponta em cenários de incertezas, porque a velocidade acelerada de respostas depende de tecnologias e insumos que possibilitem essas previsões.   

Acredito que a gestão em Saúde passou a olhar essas questões com outros olhos, agregando valor para todo o paciente e o sistema como um todo. E esse valor é o que deve se manter no mundo pós-pandemia, de forma a garantir a sustentabilidade do setor.”

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Martha Oliveira, diretora executiva da Designing Saúde

“O desenvolvimento da gestão colaborativa está entre os principais aprendizados da gestão de Saúde nesta pandemia, mas é um aprendizado ainda em curso. Esse tipo de abordagem é horizontalizada e permite integração entre colaboradores que, por sua vez, trabalham em prol de um propósito comum. Mas, para chegar à colaboração de fato, especialmente na Saúde, iremos passar por um período de transição.  

Com relação ao paciente em si, a pandemia trouxe esse legado de aproximar as pessoas do cuidado. E isso não aconteceu apenas pela criação de ferramentas como aplicativos, a telemedicina em si, que ampliam o acesso mesmo que a distância, mas também porque houve um reconhecimento da comunidade como um espaço gerador de saúde — e não só do hospital, da operadora, da clínica, da UBS.  

Com a responsabilidade do cuidado compartilhada entre médico e paciente, o potencial transformador do sistema é enorme. A percepção do autocuidado em casa e na comunidade se fortalece e, como resultado, a gestão hospitalar se vê diante da necessidade de modificar seu ambiente, a ponto de transformar o hospital em um lugar reservado a atendimentos mais graves, que deveria desde sempre ser sua função principal. Essa é uma discussão antiga, mas a pandemia trouxe esse olhar de transformar hospitais em locais menores, mais especializados, e com foco em outros tipos de cuidado, mais abrangentes e continuados.  

No caso da gestão de operadoras, muitas das transformações impulsionadas pela pandemia já vinham acontecendo — de forma mais lenta, mas vinham. Além de questões sociais como o envelhecimento da população, que já é um desafio antigo enfrentado por essas organizações, a pandemia trouxe aumento na taxa de desemprego — que interfere diretamente na adesão de beneficiários.   

Estamos, portanto, em um momento de virada na gestão de Saúde, não apenas por questões econômicas, mas da sociedade em si, tanto em termos de vínculo empregatício quanto em questões relacionadas aos desejos das pessoas, de terem um produto diferente, que entregue saúde de fato. Nesse sentido, hospitais e operadoras terão de rever modelos e a sociedade, em si, terá de rever o que se quer da Saúde Suplementar e da própria Saúde Pública também. 

E, no fim das contas, o que todos querem é mais qualidade de vida e bem-estar. Isso não muda — na pandemia ou após ela." 

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