Saúde Pública digital: desafios reais e caminhos possíveis
Uma das grandes dificuldades dos municípios é ter a tecnologia certa, com profissionais capacitados e processos bem ajustados. Ao ajustar esse tripé, o ganho é mais acesso aos cidadãos.
A transformação digital não veio somente para a área privada: a saúde Pública tem, também, muito a ganhar com a digitalização de processos e de serviços de assistência ao cidadão.
Sabe-se, no entanto, que a iniciativa demanda a transposição de barreiras complexas, sendo a falta de recursos a primordial delas.
E isso é ainda mais verdade em estados e municípios de pequeno porte, com até 20 mil habitantes. São esses lugares que possuem hoje o menor índice de Saúde Digital do país.
A saúde pública digital e seu papel na transformação dos serviços de saúde
A saúde pública digital utiliza tecnologias e inovações para melhorar o acesso, a eficiência e a qualidade dos cuidados de saúde.
Através da adoção de sistemas eletrônicos de registros de saúde, telemedicina, aplicativos móveis e análise de dados, a saúde pública digital facilita o monitoramento da saúde da população, permite a entrega de cuidados remotos, agiliza o compartilhamento de informações entre profissionais de saúde e melhora a tomada de decisões baseadas em evidências.
Ao promover a digitalização e a conectividade, a saúde pública digital impulsiona a transformação dos serviços de saúde, tornando-os mais eficazes, acessíveis e centrados no paciente.
Principais desafios reais na implementação da saúde pública digital
A implementação da saúde pública digital enfrenta uma série de desafios reais que precisam ser abordados. A falta de infraestrutura tecnológica e acesso à internet em áreas rurais e regiões remotas dificulta a disponibilidade dos serviços digitais de saúde para todos os indivíduos.
Entretanto, nem sempre apenas cidades pequenas e sem infraestrutura possuem esse desafio. Cuiabá, por exemplo, uma capital brasileira com 3 milhões de habitantes, ainda administra a Saúde Pública local sem um sistema de gestão e faz tudo no papel.
Por isso, algo que precisa ficar claro desde já é que a digitalização não significa a adoção de uma Saúde Digital de fato, como provam os indicadores levantados pela pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos estabelecimentos de saúde brasileiros (TIC Saúde 2022):
Embora 97% dos estabelecimentos de saúde pública do Brasil tenham computadores instalados, apenas 85% possuem sistema eletrônico para registro de pacientes e só 42% mantêm informações clínicas e cadastrais no prontuário eletrônico.
Além disso, as disparidades digitais e desigualdades no acesso aos serviços de saúde digitalizados podem aprofundar as desigualdades de saúde existentes, nesse aspecto, barreiras culturais e de aceitação também podem ser um desafio, já que algumas comunidades podem ter resistência à adoção de soluções digitais na saúde pública.
O desafio financeiro, por sua vez, é um dos maiores. Muitos municípios pequenos não têm verbas suficientes para contratar a tecnologia necessária - que é, sim, custosa. Mas há formas de buscar esses recursos. Por exemplo, por meio de emendas parlamentares.
Secretarias de Saúde municipais podem montar projetos e enviar para o Parlamento e, se aprovado, vão receber verbas do próprio Ministério da Saúde para financiar a implantação da Saúde Digital - até porque terá um ganho importante para o cidadão.
A segurança e a privacidade dos dados de saúde digitalizados são preocupações críticas que precisam ser endereçadas para garantir a confiança dos pacientes. Além disso, a otimização dos recursos digitais é essencial para garantir que as soluções implementadas sejam eficientes, escaláveis e sustentáveis.
As informações que a Saúde Digital proporciona ao gestor público dá o poder de tomar uma decisão acompanhando de perto o que acontece. Um exemplo claro é a falta de médicos em alguma unidade básica de saúde - algo que muitos cidadãos reclamam. Tendo acesso aos dados, o gestor pode alocar profissionais para atender à demanda exatamente onde ela é necessária.
O desafio maior é que os repasses do Ministério da Saúde para os municípios aconteçam por meio da produção confirmada. E aqueles que não têm recursos digitais para acompanhar os indicadores de desempenho e o controle dos gastos podem deixar de receber verbas importantes.
O que acontece em muitos casos é que cidades em que a Saúde Digital ainda não é uma realidade começam a ter uma queda acentuada dos repasses - exatamente o caso de Cuiabá. Com isso, deixam de reverter investimentos para cuidar da saúde da população.
Superar esses desafios requer esforços colaborativos entre governos, provedores de serviços de saúde, tecnólogos e comunidades, a fim de garantir que a saúde pública digital seja acessível, segura e eficaz para todos.
Principais componentes da saúde pública digital
A saúde pública digital é composta por três elementos principais: dados eletrônicos, telemedicina e sistemas de informação.
- Dados eletrônicos: São informações de saúde armazenadas digitalmente, como histórico médico, resultados de exames e medicamentos prescritos. Eles permitem acesso rápido e seguro às informações do paciente, reduzindo erros e facilitando a análise de dados em larga escala.
- Telemedicina: Refere-se à prestação de serviços de saúde à distância por meio de tecnologias de comunicação. Isso inclui consultas virtuais, monitoramento remoto de pacientes e educação médica online.
- Sistemas de informação: São plataformas digitais que coletam, armazenam, processam e analisam dados de saúde. Eles englobam sistemas de gestão hospitalar, que administram o fluxo de pacientes e informações clínicas, e sistemas de vigilância epidemiológica, que monitoram doenças e surtos.
Esses componentes desempenham um papel fundamental na transformação dos sistemas de saúde, proporcionando acesso facilitado aos cuidados de saúde, melhorando a eficiência dos serviços, aumentando a segurança do paciente e permitindo uma abordagem mais orientada à prevenção e ao autocuidado.
3 principais benefícios da saúde pública digital
- Maior qualidade e segurança dos cuidados de saúde: O acesso rápido a informações relevantes sobre o histórico médico de um paciente, resultados de exames e interações medicamentosas reduz os erros de diagnóstico e tratamento. Além disso, a utilização de alertas e lembretes automáticos auxilia na adesão ao tratamento e na prevenção de eventos adversos.
- Redução dos custos de saúde: A longo prazo, telemedicina e as consultas virtuais, por exemplo, diminuem os gastos com deslocamento e internações desnecessárias. Além disso, a análise de dados de saúde em larga escala pode identificar padrões e tendências que ajudam na alocação eficiente dos recursos e na implementação de intervenções mais eficazes.
- Empoderamento do paciente: A saúde pública digital capacita os pacientes a se tornarem participantes ativos de seu próprio cuidado.
Com a otimização dos recursos promovida pela Saúde Digital é possível planejar e executar um cuidado muito mais assertivo para cada município. Vamos entender na prática as vantagens em se ter um município 100% digital:
- Acesso facilitado aos serviços públicos;
- Maior eficiência na gestão de recursos e na prestação de serviços;
- Atendimento humanizado, evitando filas desnecessárias;
- Redução de custos operacionais;
- Aumento da qualidade e da precisão em diagnósticos e tratamentos;
- Ampliação do monitoramento e da prevenção de doenças ao mapear focos de endemias;
- Evita a repetição desnecessária de exames diagnósticos de alto custo;
- Favorecimento da transparência das informações.
E por onde o gestor público pode começar a instalar a Saúde Digital em seu município?
Vandré Dall`Agnol, diretor de Unidade de Negócios da MV costuma dizer que antes de tudo é preciso saber qual é a sua dor, ou seja, a área em que precisa de melhorias urgentes. Somente depois de identificar isso deve-se buscar conhecer opções tecnológicas que atendam a sua necessidade específica.
“Buscar um projeto de Saúde para o município também é uma boa estratégia. E eu sugiro começar sempre pela Atenção Primária em Saúde, que deve ser a porta de entrada ao sistema público de Saúde.”
Ele ainda complementa que é importante se cercar de tecnologias confiáveis e serviços que tragam processos com conhecimento para operar e capacitar os profissionais de Saúde. Se não der para integrar tudo em uma solução única, não tem problema, dá para começar essa transformação digital por partes. O importante é dar um passo rumo à Saúde Digital o quanto antes.
Benefícios da parceria público-privada na saúde pública digital
- Acesso a recursos e expertise: O setor privado traz consigo recursos financeiros, conhecimentos técnicos e experiência em tecnologia que podem acelerar o desenvolvimento e a implementação de soluções digitais. Ao colaborar com governos e ONGs, é possível aproveitar esses recursos para superar desafios e promover a inovação na área da saúde.
- Desenvolvimento de soluções personalizadas: A parceria público-privada permite a combinação de conhecimentos especializados do setor privado com a compreensão das necessidades e realidades locais do setor público. Isso resulta no desenvolvimento de soluções digitais personalizadas, que abordam desafios específicos e atendem às demandas da população de forma mais eficaz.
- Ampliação do alcance e impacto: A colaboração entre os setores público e privado possibilita a ampliação do alcance das soluções digitais na saúde pública. O setor privado traz consigo recursos de marketing, distribuição e infraestrutura, o que pode ajudar a levar as tecnologias digitais a um maior número de pessoas, especialmente em áreas remotas e carentes.
Desafios da parceria público-privada na saúde pública digital
- Proteção de dados e privacidade: A parceria entre o setor público e o privado envolve o compartilhamento de informações sensíveis de saúde. É essencial garantir que os dados sejam protegidos adequadamente, seguindo as regulamentações e normas de privacidade. É necessário estabelecer acordos e salvaguardas para proteger a confidencialidade dos dados dos pacientes.
- Desafios de governança: As parcerias público-privadas exigem uma governança adequada para garantir a transparência, a responsabilidade e a equidade na implementação das soluções digitais. É necessário estabelecer mecanismos de governança claros, com participação de todas as partes envolvidas, para evitar conflitos de interesse e garantir uma tomada de decisões colaborativa.
- Desigualdades e acesso equitativo: A implementação da saúde pública digital precisa garantir que todos os segmentos da população tenham acesso igualitário às soluções digitais. É fundamental considerar as desigualdades existentes, como a falta de acesso à internet e a disparidade no acesso a dispositivos digitais, para evitar a exclusão de grupos vulneráveis.
Caminhos possíveis para superar os desafios
Prontuário único do paciente
Um dos desafios da saúde pública digital é garantir a interoperabilidade e o acesso aos dados de saúde em diferentes instituições. O desenvolvimento de um prontuário eletrônico único do paciente, compartilhado entre hospitais, clínicas e outras instituições de saúde, é uma solução.
Isso permitiria o compartilhamento seguro de informações relevantes, evitando a duplicação de exames e facilitando a continuidade do cuidado.
O Prontuário Único do Paciente, ou PUP, é um conjunto de documentos relativos à assistência prestada a um paciente. Ele contém todas as informações sobre a saúde do paciente, as anotações dos profissionais que prestaram assistência, os resultados dos exames e os relatórios dos procedimentos e dos tratamentos realizados.
Por Lei, e em benefício da segurança para o próprio paciente, os hospitais são os encarregados de cuidar e conservar tudo que diz respeito à doença, comorbidades, tratamentos e exames, para garantir que essas informações estejam sempre disponíveis, todas as vezes em que forem requisitadas.
Além disso, o prontuário contém informações de natureza científica e jurídica que não podem ser perdidas. Apesar de altamente recomendável, poucos pacientes conseguem organizar e manter uma pasta completa sobre o seu caso.
Investimento em infraestrutura tecnológica e conectividade em áreas remotas
A digitalização da saúde requer uma infraestrutura tecnológica sólida e uma conectividade confiável. É essencial investir na expansão da infraestrutura de telecomunicações e na melhoria da conectividade em áreas remotas do país. Isso garantirá que mesmo as regiões mais afastadas possam acessar as soluções digitais de saúde e se beneficiar delas.
Políticas públicas e regulamentações adequadas para incentivar a adoção da saúde pública digital
É fundamental que o governo implemente políticas públicas e regulamentações que incentivem a adoção da saúde pública digital.
Isso inclui estabelecer padrões de interoperabilidade, garantir a segurança dos dados de saúde, promover a telemedicina e fornecer incentivos financeiros para a adoção de soluções digitais pelas instituições de saúde.
Capacitação e treinamento dos profissionais de saúde e da população para o uso eficaz das soluções digitais
É necessário investir em programas de capacitação para os profissionais se familiarizarem com as tecnologias e aprenderem a utilizá-las de maneira eficiente. Além disso, a população também precisa ser educada sobre as vantagens e o uso adequado das soluções digitais de saúde.
Conheça a MV e suas iniciativas para digitalização da saúde no Brasil
A MV é uma multinacional focada na transformação digital da saúde. Com mais de 30 anos de experiência, a MV tem desempenhado um papel importante na digitalização da saúde no Brasil, oferecendo produtos e serviços inovadores para instituições de saúde públicas e privadas.
Com esforços colaborativos entre o setor público, o setor privado e as instituições de saúde, é possível impulsionar a transformação digital e alcançar uma saúde pública mais eficiente e acessível. Conheça mais da MV e nossos serviços para saúde pública digital clicando aqui.