Do analógico ao digital: qual é o real estágio da Saúde Digital no Brasil

Instituições 100% digitais representam apenas 0,1% do total de hospitais do País, mostrando que o caminho para uma completa transformação digital na Saúde ainda está sendo traçado

Do analógico ao digital: qual é o real estágio da Saúde Digital no Brasil

Muito se discute sobre a saúde digital e seus benefícios e desafios para proporcionar uma assistência mais segura e de qualidade a mais pacientes. Por conta disso, empresas e fornecedores de tecnologias têm disponibilizado no mercado novas soluções dedicadas a ajudar os hospitais a serem cada vez mais digitais — e não somente digitalizados. Mas, atualmente, o real cenário do pleno exercício da Saúde Digital no Brasil é outro, bem diferente, como mostram os números do setor.  

Dos 6.642 hospitais que existem atualmente no País, segundo a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), somente oito são certificados pela Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS) como nível 7, que garante a maturidade necessária para classificar o Hospital Digital (veja quais são eles aqui). Ou seja, menos de 0,1% do total de instituições é 100% digital 

Se olharmos, então, para essas organizações que ainda não têm uma maturidade digital completa, mas já se classificam como um hospital sem papel, ou paperless, esse número sobe para entre 150 e 200 hospitais brasileiros, sendo que 600 deles fazem apenas uma parte dos processos paperless, mas acabam imprimindo contas médicas para o faturamento hospitalar, por exemplo. Portanto, em uma visão ampla, temos 10% das empresas hospitalares privadas já iniciadas em algum grau na Saúde Digital

Todos esses dados foram apresentados durante o painel “Do analógico ao digital: revolucionando os serviços de saúde”, que fez parte do programa do MEF 2022. Para Valmir Oliveira Júnior, diretor comercial de Produto da MV, eles mostram o quanto a Saúde Digital ainda engatinha no País, embora a transformação digital tenha começado há cerca de dez anos (no segmento de saúde, pois na área bancária, comercial e industrial a transformação digital já começou há mais de 2 décadas):

“Nós vivemos em um mundo digital, no qual diariamente fazemos transferências bancárias digitais, pedimos comida pelo app e compramos no e-commerce, mas, basta entrar em um hospital, para imediatamente voltarmos aos tempos analógicos, com muito papel circulando livremente”, contextualiza.  

Por trás desta morosidade, há um acúmulo de ônus para os hospitais e pacientes, que poderiam estar melhor assistidos se os caminhos para fomentar a transformação digital nos hospitais brasileiros acontecesse de maneira mais regular e consistente.

 

E na saúde pública? 

Se para a saúde privada está difícil avançar nesse caminho, para o setor público a falta de aderência na saúde digital pode até custar repasses do governo federal, como explica Vandré Dall'Agnol, diretor de Unidade de Negócios da MV:

“Os gestores públicos municipais estão mais preparados com a gestão em saúde e sabem que precisam aderir ao digital para garantir o repasse de verbas. Mas, o desafio ainda é ter os equipamentos e softwares certos para tal tarefa, além da adesão dos funcionários à tecnologia.” 

A chamada temporalidade da administração pública, com a troca de gestão a cada quatro anos, pode estar também entre os motivos para a ruptura no avanço digital:

“Para mudar isso, é preciso ter investimento em tecnologia e uma disruptura cultural importante, para que todos os envolvidos entendam e percebam os benefícios da Saúde Digital”, completa Dall'Agnol.

 

Uma saúde pelos dados 

Sócrates Cordeiro, CEO na CeosGO e especialista em Analytics para a área de Healthcare, a Saúde Digital ainda tem o potencial de ajudar em uma melhor tomada de decisão dos gestores.

“A partir da análise e ciência de dados é possível saber onde colocar uma UPA ou uma UBS, para que esteja exatamente onde o paciente mais necessita”, exemplifica.

Nessa linha, também dá para contratar as especialidades médicas mais procuradas e alocar esses profissionais nos locais de maior busca por parte da população.

“Sem essa análise, tudo vira um chute. E ele pode ser tão errado que até piora a vida dos pacientes”, completa. 

BI é um conceito bastante antigo na saúde digital, porém, ainda muito útil ao gestor em saúde, como lembra Cordeiro:

“Quando os gestores não são orientados por dados e fatos, estarão fadados ao fracasso; o que, no caso da Saúde, pode ser bastante custoso para toda a população”, finaliza.   

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